Tenho andando muito pensativa. Às vezes parece que o mundo
está girando rápido demais e eu apenas olhando sem conseguir emitir qualquer
tipo de reação.
Sei que isso não é normal, talvez seja uma fase ruim. Na
verdade, meus pensamentos andam viajando muito por um tempo que não volta mais,
recordar tem me mostrado o quanto eu vivi realmente cada instante e o quanto as
pessoas estão perdendo enquanto buscam por independência financeira.
Talvez o cansaço, a idade que vai avançando nos faz
valorizar os momentos em que tenho a possibilidade de viver. Cada dia é um
presente, cada conquista por menor que seja; uma grande vitória.
Recordo-me com saudades da minha infância, onde a inocência
era total, brincar descalça no quintal, subir em árvores, brincar de esconde-esconde,
ficar na porta de casa até mais tarde sem medos. Isso sim era ser criança!
Uma adolescência sem tecnologia onde sair para encontrar os
amigos, falar olho no olho, as festinhas em casa, os primeiros flertes era algo
tão esperado. Uma época que não poderia ter sido substituída por tanta
modernidade! Eu posso dizer: tenho saudades sim, de um tempo onde eu vivi.
Não me tornei uma pessoa sem escrúpulos ou um fora da lei
por ter ajudado minha mãe nas tarefas de casa, por ter levado a escola tão a
sério, por ter ficado de castigo por merecimento, pelas palmadas.
Quantas horas passei fazendo pesquisas em livros, jornais e
revistas, escrevendo meus trabalhos em papel almaço e fazendo capas cada uma
mais criativa que a outra. Não sou da época das pesquisas no google, das
páginas e páginas copiadas sem nem mesmo saber sobre o que estava escrito ali.
Fui da época da reprovação, dos deveres de férias e da
recuperação onde se não sabia não avançava. Só passava de ano quem sabia. Hoje;
estão criando cidadãos analfabetos dentro da escola. Pais que brigam nos finais
de ano por nota para seus filhos, quando nas reuniões nunca podem comparecer.
Tempos sombrios virão, profissionais sem qualificação
comprando diplomas e fazendo do povo suas cobaias.
Pelo jeito ainda tenho muito o que recordar já que pra viver
está cada dia mais difícil.
Márcia Coutinho