De repente me veio à mente uma fase
da minha vida que recordo com tanta saudade que chega a doer.
Se pudesse voltar no tempo; com
certeza nesse momento estaria correndo pelo quintal da casa de minha vó atrás
das galinhas ou quem sabe em cima da mangueira somente para ver do alto as
pessoas conversando à sombra daquela mangueira.
Tempo em que ficar descalço era uma
maravilha, onde ir para a escola era um prazer, os colegas se tornavam amigos
para sempre. Época onde não se falava em desmatamento, poluição. Recordo-me de
esperar com ansiedade o dia de ir no córrego lavar roupas, eu me divertia
naquela água clara e cristalina. Sem medo, sem hora para acabar.
Fico olhando a minha volta, as
crianças de hoje, já falando em namoro, sexo, encontros. Assuntos como
carrinhos e bonecas é de uma geração ultrapassada. Como estão enganados!
Tudo que aprendi e dei muito valor
ensinei a meus filhos. Sabe, eles se tornaram homens diferenciados dessa
geração atual. Pedem benção ao acordar e ao deitar. Respeitam as pessoas, tem
éticas e grandes valores. Tem seus defeitos, afinal criei seres humanos e não
robôs.
Eu sabia o valor do não e o
respeitava, mesmo sabendo que não era o que u queria ouvir, não discutia, tinha
medo do “tapa na boca”.
Essa geração da era tecnológica não
tem limites. Tudo querem, tudo podem, não aceitam o não. São questionadores.
Afrontam a família e a sociedade.
Que saudade que eu tenho! Vou te
contar porque estou vivendo esse dia de uma tristeza diferente: vi o lugar onde
passei aminha infância perdendo o seu encanto. Vi cada árvore sendo jogada ao
chão, vi o galinheiro sendo destruído para dar lugar a uma casa moderna.
As crianças que ali vão crescer
talvez sintam o cheiro de uma infância feliz que ali vivi com meus irmãos e
primos. Eles nem vão me conhecer, saber que ali eu corri, machuquei, caí,
brinquei, vivi.
Tomara que eles ainda consigam
ouvir minhas gargalhadas em forma de vento quando esse bater em sua janela.
Talvez... somente talvez eles consigam ali resgatar uma
infância que está se perdendo por aí e consigam ser felizes de verdade.
Márcia Coutinho
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