Existe bem
ali, naquela cantinho uma janela voltada para o mundo. De lá fico observando o
vai e vem das pessoas. Cada um com seu jeito seguindo seu caminho.
É justamente
aí que descubro um mundo diferente daquele que projetei em meus sonhos. Nele não
há vaidade, há uma correria pela sobrevivência. Há vencidos pelo cansaço, uma
ilusão que se foi.
Desta
janela vi um mundo não cor de rosa mas cinza, causado pela ambição do homem,
pela violência, pelo medo.
Da minha
estreita janela tudo é largo, os sonhos, a esperança, a vontade de viver. Do outro
lado da vidraça ainda embaçada pela neblina da noite não se vê sorriso, vê pessoas
sonolentas vencidas pela pressa, vê um aceno rápido de mão, vê o ônibus lotado
passando apressado.
Criei
a ilusão que por detrás daquela janela existe uma realidade diferente da que
imaginei, ela parece distorcida, o encontro não aconteceu, ele não apareceu,
não avisou, simplesmente foi uma miragem que criei em minha mente.
Da minha
janela avistei contradições que antes escandalizavam: vi o branco encontrando o
preto, os homens se aceitando, a vida tentando ser levada a sério.
Hoje
não abri minha janela, ela está de luto, os homens já não se respeitam, pais
matam filhos, filhos agridem pais, os bons partem; os ruins insistem em ficar,
brigam para tomar posse do nosso mundo.
Fecham-se as cortinas, o
espetáculo da vida está prestes a pedir um tempo, o segundo ato precisa ser
ensaiado, o homem precisa colocar em prática o que ensaiou em sua trajetória,
ele precisa mostrar que ainda há tempo para semear flores na jardineira da janela da vida!
Leia amanhã: UM JULGAMENTO PELO OLHAR.
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